Além do sentimento

Tolerar, visualizar saídas, compreender que é um momento da vida. É importante fortalecer os recursos que esse sujeito tem, o que dá prazer, o que faz pensar no futuro e assim por diante”

É importante entender que o suicídio é um fenômeno, que se estrutura em uma multiplicidade e complexidade. Sejam por fatores biológicos, sociais, culturais, psicológicos, econômicos, raciais, étnicos ou de gênero, o suicídio é um fenômeno multideterminado, ou seja, não existe uma causa única. “É como se fossem várias peças de Lego, que vão se compondo, que vão se interligando e construindo o fenômeno”.

A fala acima é do psicólogo Paulo Vitor Palma Navasconi, que esclarece que o suicídio não se trata de uma doença. A motivação, segundo ele, é de que vivemos em uma sociedade doente, uma sociedade desigual, que se você é diferente da norma você é atacado, literalmente excluído.

“As minorias são diariamente negligenciadas em seus direitos básicos, direitos dignos de existência. Assim, percebemos que o fenômeno do suicídio é uma constituição do meio em que o indivíduo está. O maior problema, também, é que estamos em uma sociedade que coloca o erro, o fracasso, apenas no indivíduo. Sendo assim, a análise do comportamento suicida leva todos esses viesses em consideração”.

Segundo o psicólogo esses viesses criam sentimentos de desespero, desamparo, desesperança, abandono, descontrole emocional, de que a vida está desmoronando, de quem ninguém pode ajudar. “Desta forma, é importante possibilitar construções junto a esse sujeito. Tolerar, visualizar saídas, compreender que é um momento da vida. É importante fortalecer os recursos que esse sujeito tem, o que dá prazer, o que faz pensar no futuro e assim por diante”, afirma.

Construção

Paulo Vitor vai além e alerta que todo sentimento é um produto, construído justamente porque se está em uma relação, dentro de um momento histórico ou de um contexto.

“Olhamos para uma pessoa e julgamos sua negatividade, sua agressividade, mas não entendemos os motivos que culminaram nesse comportamento.  Precisamos romper o mito de quem quer se matar, se mata, não fica falando. Todo ato é também uma comunicação. Se está chamando a atenção, dê atenção”.


Todo conteúdo descrito nesse texto foi aprovado pelo psicólogo que concedeu a entrevista

Paulo Vitor Palma Navasconi – CRP 08/25820

Psicólogo, membro do coletivo Yalodê-Badá e do Núcleo de Estudos Interdisciplinar Afro-Brasileiro da UEM (NEIAB). Ex Coordenador estadual da cadeira LGBT do Fórum Paranaense de Juventude Negra. Graduado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mestre pela Universidade Estadual de Maringá. Doutorando em Subjetividade e práticas sociais na contemporaneidade na Universidade Estadual de Maringá. Membro do grupo de pesquisa em sexualidade, saúde e política. Membro da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia (Sede Paraná 08). Professor em Psicologia no Centro Universitário Cidade Verde (UNIFCV) e na Pós-Graduação Gestão de Pessoas e Psicologia Organizacional na disciplina: Subjetividade e Trabalho (UNIFCV) na cidade de Maringá. Autor do Livro: Vida, Adoecimento e Suicídio: Racismo na produção do conhecimento sobre jovens negros LGBTTIs publicado no ano de 2019. Atualmente dedica-se a estudos relacionados a raça, gênero, genocídio da população negra, história da Psicologia e comportamento suicida.