Brenda é Psicóloga e Coordenadora de Saúde Mental do Cartas Amarelas
CRP 08/25751
Estamos vivendo uma Pandemia, a do COVID-19, Coronavírus. Em tempos de globalização, esse vírus comprova que estamos todos conectados de alguma forma. Quanto o assunto é cuidado, é importante nos atentarmos e realizar, de fato, o que as autoridades no assunto estão apresentando.
Sei que é difícil a mudança da rotina, a quebra abrupta de hábitos e a reconfiguração, não apenas de modos de estar na vida, nos modos de ser. O adoecimento físico, e até mesmo a possibilidade dele, atravessa a nossa subjetividade, a maneira como somos. Por conta deste adoecimento, estamos vivendo a restrição de nossa liberdade.
Somos convocados a estarmos em casa e sair apenas por extrema necessidade. Sabemos que boa parte da população passa de 6 à 10h fora de suas casas diariamente, seja estudando ou trabalhando. Não estamos acostumados a ficar em casa. E quem está, não está acostumado com a ideia de que não pode sair a hora que quiser. Este momento exige um autocontrole muito grande.
O autocontrole não se configura apenas em sair ou não de casa, temos que rever os nossos hábitos de higiene, sair do automático. Agora não se pode mais tocar o próprio rosto. Ao sair de casa e voltar, não pode mais adentrar com os sapatos. Não pode deixar a roupa utilizada no dia, e que ainda está meio limpa, para usar no próximo. Bijuterias e joias são agora meios de contaminação. Teremos que sair da obviedade, dos hábitos, da rotina.
Sobre as novas configurações, precisamos mudar até mesmo a de nossa casa. Restrições ao entrar. Abertura de espaços para montar o escritório em casa, o home office. Limitar o que é o espaço de trabalho e o que é o espaço comum, ao mesmo tempo em que a linha fica muito tênue.
Mais do que nunca é preciso a colaboração de todos, em casa, dos vizinhos, das políticas de sua cidade e do seu estado. Mas como pedimos isso? Como vamos nos autocontrolar? São todos os que podem reconfigurar suas casas? E as crianças e adolescentes que estão em casa? E as casas sem estrutura? As casas superlotadas? Teremos que nos reinventar. Dói dizer que teremos que nos adaptar, mas é necessário. Faça alguns exercícios:
- Onde você tem se informado sobre o COVID-19? Com que frequência?
Dica: se informe em meios oficiais e fontes seguras de informação. No máximo acompanhe as notícias 2x ao dia. Cuidado com as fakenews e não as passe para frente.
- Na sua cidade o que é permitido e o que não é?
Dica: a sua cidade emitiu algum decreto? Se sim, o que está escrito nele? Siga o que está determinado.
- Você terá que sair de sua casa nesse período?
Dica: se você precisar sair, pesquise o que é necessário para que você permanecer seguro nesse período. Caso você não precise sair, pense sobre o que você precisará organizar em sua casa para ficar nela.
- Em sua casa as pessoas terão que sair ou não?
Dica: se sim, faça um levantamento de quais cuidados terão que tomar ao retornar. Se não, quais as mudanças que vocês terão que fazer neste momento.
- Você, quais cuidados pode tomar neste momento?
Dica: ao se informar, informe também as pessoas ao seu redor.
- Quais são as necessidades que você e/ou seus familiares tem nesse momento?
Dica: levante o que vocês precisam ter e/ou fazer neste momento e elaborem estratégias em conjunto.
- Quais são os sentimentos que você está tendo a respeito de tudo isso?
Dica: identifique quais são os sentimentos que você está vivenciando neste momento e pesquise formas de lidar com cada um.
Dicas finais
- Crie uma rotina de cuidados com você e com as pessoas que moram com você, de acordo com as necessidades de vocês e com os sentimentos que forem surgindo.
- Faça todos os dias um exercício de autopercepção. Responda as seguintes perguntas: como foi o meu dia? O que eu fiz? Como estou me sentindo fisicamente? Como estou me sentindo emocionalmente? Como ou que posso fazer para atender as necessidades do meu corpo e do meu emocional sem me descuidar e descuidar daqueles que estão comigo?
Neste momento somos convocados a estarmos em casa, a estarmos com as pessoas que convivemos. Será um desafio em um momento tão estressante lidar com o próximo. Mas, é necessário aprendermos. Desconfortos acontecerão, o tédio virá, o medo, a angústia. Todos estes são sentimentos válidos neste momento, porém a forma como você vai lidar, como você vai responder a tudo isso, diz como você é. E aí, o que você quer ser? O que você é?
Acredito que em tudo na vida há uma escolha, obviamente que transpassada por aquilo que acontece ao nosso redor, por aquilo que acontece conosco. Mas, dentro da sua vida, das suas possibilidades, você tem escolha.
Não escolhemos viver uma pandemia, mas podemos escolher se vamos nos cuidar nesse período ou não. Se me dão a liberdade, direi que se tem algum benefício nisso tudo, seria sair do automático, repensar as nossas vidas, rever nossos posicionamentos, rever o que nos é essencial e prioritário. Obviamente que eu não gosto da ideia de fazermos isso por conta do que vivemos, mas para o nosso bem, para o bem do todo, precisaremos fazer isso neste momento.
Portanto, cuide da sua saúde mental. Ela será um dos determinantes para você passar bem por essa, ela também é um dos responsáveis diretamente pelo seu bem-estar físico. Cuide-se. Peça ajuda. Converse.