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Ressignificação

Saúde mental Por Danielle Corrêa, Brazutopia

É uma dor sem fim, às vezes penso que não vou aguentar, é uma saudade que não tem solução. Saber que o nunca existe é terrível, relativizando a vida é isso, NUNCA mais verei meu filho. Mas, sou Cristã, acredito no amor de Deus pelos seus filhos e acredito na ressurreição, então tento pensar que não foi o fim, mas, sim, uma pausa e que logo nos veremos.

Desde a morte dele, não deixei de pensar em meu filho em nenhum dia. A hora tem 60 minutos. Sem medo de errar, dentro de uma hora, penso em meu filho pelo menos 5 minutos. São muitas lembranças, cheiros, locais, roupas, um boné, o que ele gostava. Eu e ele tínhamos uma ligação muito forte, temos muitas histórias juntos, então a morte dele só nos traz tristeza”

O relato acima é de uma mãe que perdeu o filho. Um filho que cometeu suicídio para acabar com a própria dor. Regina Aparecida de Paula é o nome dessa mãe. Um ser humano que serve de exemplo para falar de posvenção. Afinal, como fica uma família após a morte de um ente. Como lidar com essa dor? O que fazer? Como se reencontrar?

De acordo com o Psicólogo Jose Valdeci Grigoleto Netto é preciso validar a perda, a dor. Também, é necessário dar espaço para que os enlutados falem sobre a perda, para que possam expressar seus sentimentos. “Enquanto profissionais, quando trabalhamos com esse luto, entendemos que é um luto diferente, ou seja, um luto que pode ser traumático, que pode vir a ser um luto complicado, no sentido em que as condições da morte causam maior sofrimento e impacto na vida da pessoa enlutada.”

Duplo tabu

O psicólogo explica ainda que existe um duplo tabu com relação às pessoas ligadas à pessoa que cometeu o suicídio, ao mesmo tempo que grande parte da sociedade aponta que esses sujeitos não possuem direito ao luto.

“Porque você vai sofrer, ele escolheu morrer, tirar a própria vida. Esse é o discurso mais comum, é o que mais as famílias enlutadas relatam ouvir. O luto por suicídio é uma perda somada à ‘morte escolhida’. Então, o silêncio fica mais encoberto, visto que as pessoas próximas de quem cometeu suicídio ficam envergonhadas de falar sobre isso, como se elas não fossem merecedoras desse sentimento”. O psicólogo ainda aponta o caminho: “É importante entender, portanto, que o momento é muito difícil, que é uma perda genuína e que merece espaço para ser validada e acolhida”.

Decida viver

Regina, mãe de Kauê Aaron de Paula Toledo, transformou sua dor em uma causa. A ONG Decida Viver foi idealizada após a morte do filho, em setembro de 2017, para levantar a bandeira de prevenção e posvenção ao suicídio. Regina é presidente da entidade.

“A partir de uma análise profunda sobre o que eu, minha família, meus amigos e os amigos do Kauê estávamos passando, e ainda sentimos, concluímos que ressignificar a vida é o caminho para lidarmos com o sofrimento. Uma das formas que encontramos para ressignificarmos nossas vidas é ajudando pessoas com pensamento suicida, bem como os familiares enlutados por esta causa, pois não queremos ver pessoas passando pela mesma dor”, afirma Regina.

Ferramentas

O Objetivo da ONG também é despertar a potencialidade de cada indivíduo utilizando a arte, a cultura, o esporte e o atendimento psicológico ou psiquiátrico como ferramentas de ressignificação. “Recebemos pessoas com pensamento suicida por indicação, por iniciativa da própria pessoa ou pelas redes sociais. A partir do momento que nos pede ajuda, a pessoa é encaminhada para as devidas atividades, de acordo com sua necessidade”.

Todas as ações desenvolvidas pela ONG, que ainda não tem sede própria, são mantidas voluntariamente por colaboradores, parceiros, apoiadores e patrocinadores. Com os familiares são adotados os mesmos encaminhamentos, além de palestras, conferências e outras atividades com o objetivo de amenizar a dor. Em um ano de atividades, a entidade já acolheu, aproximadamente, 200 pessoas e atualmente atendem 25 acolhidos.

Sou grata porque Deus permitiu conviver com meu filho por 25 anos e a morte dele tem um significado, primeiro em me transformar em um indivíduo melhor, com mais compaixão. Me faz pensar que o amor é fundamental para vivermos em paz com o outro e em segundo é para que eu, minha família e amigos ajudemos as pessoas que sofrem, então levantemos a cabeça e firmemos o cavalo, assim como ele mesmo dizia”

Para saber mais sobre a ONG Decida Viver envie um e-mail para ongdecidaviver@gmail.com ou entre em contato pelas redes sociais – https://bit.ly/2PosVAV


Todo conteúdo descrito nesse texto foi aprovado pelo psicólogo e pela mãe que concederam as entrevistas

Jose Valdeci Grigoleto Netto é Psicólogo – CRP 08/24556

Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial pelo Centro Universitário de Maringá. Especialista em Educação Especial e Inclusiva pela Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná. Membro do S P E S – Grupo de Estudos em Suicídio, Maringá (PR) (2015-2016) e membro do Instituto Psicologia em Foco – Oficina do Saber e Jornal Psicologia em Foco, Maringá – PR (2015-2016).

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