Não existe uma regra

Quando falamos de comportamento humano, temos que ressaltar que não uma receita pronta. Ninguém se comporta da mesma forma. Não existe um manual, então precisamos ver sempre além disso”

Muito se fala que ninguém é igual a ninguém. Olhares, falas e ações se colocados em uma equação gerariam milhares de impressões distintas. Difícil mesmo é aceitar essa complexidade humana e encarar que toda individualidade é, realmente, singular.

Diante disso, como identificar um comportamento de ideação suicida? Segundo a psicóloga Aline dos Santos Bellafronte é necessário tomar cuidado com os fatores chamados precipitantes e predisponentes, ou seja, estar atento a um estado depressivo muito longo e intenso, à possíveis problemas psíquicos, a tentativas prévias de suicídio ou casos já existentes na família, histórico de abusos, um caso de doença severa ou incapacitante.

“Ao entender o suicídio como global, analisamos todo esse contexto para muito além de um comportamento dito ‘padrão’. Olhar para esse sofrimento que também é produto social e pode aparecer e ser expressado de inúmeras outras formas, maneiras e comportamentos. Estar atento, principalmente, a um discurso que demonstra um sofrimento intenso, um desamparo e uma desesperança muito grandes, uma falta de vínculo com as relações e com o mundo”.

Comportamento

Visto que muitas pessoas não conseguem externalizar, explicar, expressar ou até mesmo entender o que está sentindo, a profissional afirma que o comportamento é uma das formas de comunicar a dor, o sofrimento intenso.

“Sendo o suicídio também um fenômeno multifatorial, é necessário defender o olhar interseccional. Compreender o todo. E, sobretudo, saber que não é falta de Deus, não é drama, não é falta do que fazer. Ninguém quer acabar com a vida, quer acabar com o sofrimento que não consegue carregar, quando não enxerga outra possibilidade para elaborar e expressar essa dor insuportável”.

Indicativos

O fato é: o sofrimento se manifesta de formas distintas e existem indicativos que todos podem e devem se atentar. “A pessoa sempre apática, que perdeu o interesse por tudo, que perdeu a capacidade em se engajar em projetos e que não tem mais perspectiva de futuro. Esses são sinais de desinteresse pela vida. A gente tem que olhar para isso e oferecer ajuda, procurar por ajuda, ouvir, não negligenciar, entender que é preciso um profissional e que está tudo bem não estar sempre bem, reconhecer isso e procurar por auxílio e ferramentas que possibilitem o enfrentamento e a ressignificação dessa dor”.

Se o indivíduo está pedindo por ajuda e atenção, paramos, olhamos e, então, oferecemos justamente o que ele está pedindo.  


Todo conteúdo descrito nesse texto foi aprovado pela psicóloga que concedeu a entrevista

Aline dos Santos Bellafronte é psicóloga – CRP 08/28791

Graduada em História e Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá, atualmente atuando como psicóloga clínica. Em formação em Psicologia Fenomenológica-Existencial pelo Instituto Veredas de Psicologia, Arte e Cultura. Membro integrante da coordenação do Projeto Epoché que oferece atendimento diferencial a universitários.